top of page

Material de estudos para Catequese Infantil

Tempo da Quaresma  

Na linguagem corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até ao Sábado Santo. Contudo, a liturgia propriamente quaresmal começa com o primeiro Domingo da Quaresma e termina com o sábado antes do Domingo da Paixão. A Quaresma pode se considerar, no ano litúrgico, o tempo mais rico de ensinamentos. Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e do Salvador. Foi instituída como preparação para o Mistério Pascal, que compreende a Paixão e Morte (Sexta-feira Santa), a Sepultura (Sábado Santo) e a Ressurreição de Jesus Cristo (Domingo e Oitava da Páscoa). Data dos tempos apostólicos a Quaresma como sinônimo de jejum observado por devoção individual na Sexta-feira e Sábado Santos, e logo estendido a toda a Semana Santa. Na segunda metade do século II, a exemplo de outras igrejas, Roma introduziu a observância quaresmal em preparação para a Páscoa, limitando porém o jejum a três semanas somente: a primeira e quarta da atual Quaresma e a Semana Santa. A verdadeira Quaresma com os quarenta dias de jejum e abstinência de carne, data do início do século IV, e acredita-se que, para essa instituição, tenham influído o catecumenato e a disciplina da penitência pública. O jejum consistia originariamente numa única refeição tomada à tardinha; por volta do século XV tornou-se uso comum o almoço ao meio-dia. Com o correr dos tempos, verificou-se que era demasiado penosa a espera de vinte e quatro horas; foi-se por isso introduzindo o uso de se tomar alguma coisa à tarde, e logo mais também pela manhã, costume que vigora ainda hoje. O jejum atual, portanto, consiste em tomar uma só refeição diária completa, na hora de costume: pela manhã, ao meio-dia ou à tarde, com duas refeições leves no restante do dia. A Igreja prescreve, além do jejum, também a abstinência de carne, que consiste em não comer carne ou derivados, em alguns dias do ano, que variam conforme determinação dos bispos locais. No Brasil são dias de jejum e abstinência a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa. Por determinação do episcopado brasileiro, nas sextas-feiras do ano (inclusive as da Quaresma, exceto a Sexta-feira Santa) fica a abstinência comutada em outras formas de penitência. Praticar a abstinência é privar-se de algo, não só de carne. Por exemplo, se temos o hábito diário de assistir televisão, fumar, etc, vale o sacrifício de abster-se destes itens nesses dias. A obrigação de se abster de carne começa aos 15 anos. A obrigação de jejuar, limitando-se a uma refeição principal e a duas mais ligeiras no decurso do dia, vai dos 21 aos 59 anos. Quem está doente (isto também vale para as mulheres grávidas) não está obrigado a jejuar. “Todos pecamos, e todos precisamos fazer penitência”, afirma São Paulo. A penitência é uma virtude sobrenatural intimamente ligada à virtude da justiça, que “dá a cada um o que lhe pertence”: de fato, a penitência tende a reparar os pecados, que são ultrajes a Deus, e por isso dívidas contraídas com a justiça divina, que requer a devida reparação e resgate. Portanto, a penitência inclina o pecador a detestar o pecado, a repará-lo dignamente e a evitá-lo no futuro. A obrigatoriedade da penitência nasce de quatro motivos principais, a saber: 1º - Do dever de justiça para com Deus, a quem devemos honra e glória, o que lhe negamos com o nosso pecado; 2º- da nossa incorporação com Cristo, o qual, inocente, expiou os nossos pecados; nós, culpados, devemos associar-nos a ele, no Sacrifício da Cruz, com generosidade e verdadeiro espírito de reparação. 3º- Do dever de caridade para com nós mesmos, que precisamos descontar as penas merecidas com os nossos pecados e que devemos, com o sacrifício, esforçar-nos por dirigir para o bem as nossas inclinações, que tentam arrastar-nos para o mal; 4º- do dever de caridade para com o nosso próximo, que sofreu o mau exemplo de nossos pecados, os quais, além disso, lhe impediram de receber, em maior escala, os benefícios espirituais da Comunhão dos Santos. Vê-se daí quão útil para o pecador aproveitar o tempo da Quaresma para multiplicar suas boas obras, e assim dispor-se para a conversão. Segundo os Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação espiritual, de vida cristã mais intensa e de destruição do pecado, para uma ressurreição espiritual, que marque na Páscoa o reinício de uma vida nova em Cristo ressuscitado. A Quaresma tem por escopo primordial incitar-nos à oração, à instrução religiosa, ao sacrifício e à caridade fraterna. Recomenda-se por isso a freqüência às pregações quaresmais, a leitura espiritual diária, particularmente da Paixão de Cristo, no Evangelho ou em outro livro de meditação. O jejum e abstinência de carne se fazem para que nos lembremos de mortificar os nossos sentidos, orientando-os particularmente ao sincero arrependimento e emenda de nossos pecados. A caridade fraterna — base do Cristianismo — inclui a esmola e todas as obras de misericórdia espirituais e corporais. Quais são as Obras de Misericórdia? Corporais Espirituais 1. Dar de comer a quem tem fome. 2. Dar de beber a quem tem sede. 3. Vestir os nus 4. Dar pousada aos peregrinos 5. Assistir aos enfermos. 6. Visitar os presos. 7. Enterrar os mortos. 1. Dar bom conselho. 2. Ensinar os ignorantes. 3. Corrigir os que erram. 4. Consolar os tristes. 5. Perdoar as injúrias. 6. Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo. 7. Rogar a Deus por vivos e defuntos. Fonte: Missal Romano

 

 

Origem e Formação da Bíblia

1. Indícios e evidências históricas

O período histórico da formação da Bíblia situa-se entre 1100 a. C. ou 1200 a. C. a 100 d. C. Provavelmente, a mais antiga parte escrita da Bíblia é o Cântico de Débora, que se encontra no livro dos Juízes (Jz, 5).

Quando os hebreus chegaram a Canaã, já havia na terra um certo desenvolvimento literário, como por exemplo, o alfabeto fenício (do qual se derivou o hebraico), que já existia no século XIV a. C. Os judeus chegaram lá por volta do século XIII a.C. Outro documento desta época é o calendário de Gezér, que data mais ou menos do ano 1000 a.C. É uma indicação de datas para uso dos agricultores. É o documento mais antigo encontrado na Palestina. Outro documento também muito antigo é o sarcófago do Rei Airam, que contém uma inscrição e foi encontrado nos séculos XIV ou XV a. C., em Biblos. Há ainda umas tabuletas encontradas em Ugarit (em 1929), onde estão escritos uns poemas semelhantes aos salmos, datando dos séculos XIV ou XV a. C.

Além destes, há outros documentos provando que já havia uma escrita na Palestina, antes dos hebreus chegarem lá. A inscrição do túmulo de Siloé (700 a. C.), explicando como foi feito; os "óstracon", de Samaria, onde há uma espécie de carta diplomática, são documentos que provam a continuidade de uma atividade literária. Em Juizes 8,14, o autor descreve um acontecimento ocorrido mais ou menos em 1100 a.C. E em que língua foi escrito este fato pela primeira vez, na época em que aconteceu? Provavelmente no alfabeto fenício (pré-hebraico).

2. A tradição oral e a tradição escrita

A parte mais antiga da Bíblia remonta justamente deste tempo (1100 a.C.), quando a escrita ainda não estava bem definida, e é oral. Desde este tempo já se fora criando uma tradição, que existia oralmente e era transmitida aos novos pelos mais velhos nas reuniões que havia nos santuários. Por este tempo, só eram relatados os acontecimentos do deserto, do Sinai, da aliança de Deus com o povo. Mas os jovens queriam saber o que havia acontecido antes disto. Então foram sendo compostas as histórias dos Patriarcas. Mas, e antes deles, antes de Abraão? Passaram à história da criação do mundo. Por isso, se afirma que a parte mais antiga da Bíblia é o Cântico de Débora, no livro dos Juizes. A partir daí, fez-se um retrospecto didático-histórico.

Como dissemos, estas histórias iam sendo passadas oralmente de pai a filho, nos santuários. Acontece que nem todos iam para os mesmos santuários, o que motivou a existência de pequenas diferenças na catequese do norte e na do sul. A tradição do sul foi chamada de JAVISTA (J), pois Deus era tratado sempre por Javé; a do norte se chamou ELOISTA (E), porque Deus era tratado como Eloi.

A tradição oral existiu até os tempos de Daví, quando foi escrita a tradição javista; meio século depois, foi escrita também a eloista. Por volta de 721 a.C., na época, da divisão dos reinos, quando Samaria foi destruída pelos assírios, muitos sacerdotes do norte fugiram para o sul e levaram consigo a sua tradição. A partir de então, as duas foram compiladas num só escrito.

Falamos das duas tradições: uma do norte e outra do sul. Mas não existiam apenas estas duas, que são as principais. Há ainda a DEUTERONOMICA (D), encontrada casualmente em 622 a. C. por pedreiros, que trabalhavam num templo. Corresponde ao livro Deuteronômio da Bíblia atual. Após esta, surgiu a SACERDOTAL (P), nova compilação das catequeses antigas de Israel, datada do século VI a.C. Ao fim, estas quatro tradições foram combinadas entre si e compiladas em 5 volumes, dando origem ao Pentateuco da Bíblia atual. Na tradição Javista, Deus é antropomórfico. Na Sacerdotal, Deus é poderoso, está acima do tempo, o que significa um progresso no conceito de Deus que o povo tinha. A redação do Pentateuco se deu pelo ano 398 a.C. e compreendia a primeira parte da Bíblia judaica.

A partir de Josué, a tradição continuou oral, para ser escrita somente por volta de 550 a.C. E foram escritas do modo como o povo contava. Por isso não se pode dar a mesma importância histórica aos fatos descritos nestes livros em relação a outros posteriores, pois alguns fatos narrados foram baseados na tradição popular, enquanto que outros foram baseados em documentos de arquivos (anais do Reino). Este é um grande desafio para os estudiosos e também uma fonte de divergências.

3. Os Intérpretes - Profetas e Sábios

Durante muito tempo, os profetas foram os orientadores do povo de Deus. Os livros proféticos resumem os seus ensinamentos, e na sua maioria foram escritos só mais tarde, por seus seguidores. Somente por volta do ano 200 a.C. é que foram redigidos os livros proféticos. Os livros Sapienciais foram o resultado de um estilo literário que esteve em moda durante muito tempo, na época posterior ao exílio. São umas reflexões humanistico-religiosas. Passados os profetas, surgiram os sábios que raciocinavam sobre as coisas da natureza, tirando delas ensinamentos para a vida. Foram acrescentados aos livros sagrados nos últimos séculos a.C., sendo os mais recentes livros do AT.

4. A nova tradição da era cristã

O NT não foi escrito com a finalidade de ser acrescentado à Bíblia. No tempo de Cristo e dos Apóstolos, o livro sagrado era apenas o AT. O próprio Jesus Cristo se baseava nele em suas pregações. E Ele mandou apenas pregar, e não escrever. Foi quando uma nova tradição oral foi se formando. E após a morte de Cristo, os apóstolos saíram pregando.

Mas veio a necessidade de congregar outras pessoas para o anúncio, em vista do grande número de comunidades existentes. Então, começaram a escrever. Mais tarde, com a aceitação também de cidadãos estrangeiros nas comunidades, a mensagem precisou ser traduzida e adaptada. Além disso, o próprio povo necessitava de uma escrita (doutrina escrita) para se conservar una, após a morte dos Apóstolos. Esta redação, no início, era apenas de alguns escritos esparsos, que só depois de algum tempo foram juntos em livros. Exemplo disso está em Mc 2, uma série de disputas de JC com os Judeus, onde se vê claramente que foi recolhida de escritos separados. Também em João se lê: "Muitas outras coisas Jesus fez que não foram escritas..." (Jo 21,24) Isto significa que só foram escritas aquelas mensagens que teriam utilidade, conforme as necessidades momentâneas.

O evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, data dos anos 60 ou 70 d.C.; os de Lucas e Mateus, são de 70 ou 80, o que significa que somente após uns 40 anos da morte de JC sua palavra começou a ser escrita. 0 Evangelho de João só foi escrito em torno do ano 100 d.C. Antigamente, se acreditava ser Mateus o autor do primeiro Evangelho. Mas a critica histórica mostra que o de Marcos foi anterior. Aliás, a respeito deste evangelho de Mateus, não se sabe ao certo quem é o seu autor. Foi atribuído a Mateus, apenas por uma tradição e também por uma praxe da época de se atribuir um escrito a alguém mais conhecido e famoso, para que a obra tivesse mais autoridade.

5. Entendendo algumas dificuldades concretas

Durante o tempo anterior á escrita dos Evangelhos, havia apenas a pregação dos Apóstolos, recordando os fatos da vida de Cristo, todavia eram fatos esparsos, sem nenhuma preocupação com seqüência ou unidade. Por isso os Evangelhos, que foram esta pregação escrita, se contradizem em algumas datas, o que mostra a pouca importância dada à cronologia. Os fatos eram recordados e aplicados, conforme as necessidades. Assim, até entre os Evangelhos sinóticos, que seguiram a mesma fonte, há diversificações. Por exemplo, no Sermão da Montanha, em Lucas fala "bem aventurados os pobres"; e em Mateus, "bem aventurados os pobres de espírito". A diferença consiste no seguinte: Lucas deu um sentido social, mais importante para as comunidades gregas, para as quais escrevia. Mas o de Mateus destinava-se às comunidades judias e queria combater uma doutrina dos judeus que tinham uma idéia falsa de pobreza. Para eles, o próprio fato de a pessoa ser pobre, já lhe garantia a salvação, enquanto outra pessoa, pelo simples fato de ser rica, já estava condenada. Por causa disso ele escreveu "pobres de espírito".

Outro ponto de discordância é o caso da cura de um cego. Mateus diz "um cego, na saída de Jericó"; e Lucas "dois cegos, na entrada de Jericó". 0 fato da 'entrada' e 'saída' pode ser explicado pela existência de duas cidades chamadas Jericó. 0 fato de serem um ou mais cegos explica-se pelo seguinte: era comum naquele tempo os cegos formarem grupos em torno de um cego-lider; e o nome deste geralmente era o do grupo. No entanto, estes detalhes pouco importam ao evangelho. 0 seu interesse é a apresentação da mensagem (evangélion = boa nova).

6. A fonte comum

Os Evangelistas sinóticos se basearam no Evangelho de Marcos e noutra fonte, convencionada por fonte "Q", simbolizando os inúmeros escritos esparsos de que já tratamos. Espalharam cópias destes por outras partes do mundo. Lucas, Mateus, cada um em lugares diferentes, se inspiraram nos escritos disponíveis e inclusive no evangelho de Marcos, que na época já havia sido escrito. O fato do primeiro Evangelho ser atribuído anteriormente a Mateus se deve a uma afirmação de Eusébio de que Mateus escrevera a "logia" do Senhor em aramaico. Mas a crítica histórica provou que o Evangelho que conhecemos não traz apenas a "logia" do Senhor e não foi escrito em aramaico, e sim em grego. Portanto a noticia de Eusébio se refere a outro escrito, e não a este evangelho. Nada impede, porém, que tenha sido escrito por discípulos de Mateus e atribuído ao Mestre. Aliás, a respeito de "Evangelho", o primeiro a usar esta palavra para indicar as memórias dos Apóstolos foi S. Justino, em 130 d.C.

7. As Cartas

As cartas de Paulo foram enviadas para serem lidas em público. Em I Tes 5, 27 há uma alusão a isto. Havia também o intercâmbio das cartas, como se lê em Col 4,16: "mostrem esta carta para Laodicéia e tragam a de lá para vocês". Aos poucos as cartas foram colecionadas, e no fim do I século já se tem notícia delas, quando em II Ped 3,15 se lê: "...nosso irmão Paulo vos escreveu conforme o dom que lhe foi dado... " As cartas de Paulo foram os primeiros escritos do NT. Não se sabe quando os Evangelhos e elas foram acoplados, mas já no fim do I século estavam reunidos num só livro.

As Epistolas Católicas (universais) são chamadas assim por se destinarem à Igreja em geral, e não a tal ou qual comunidade, como fizera Paulo. Elas também se originaram da necessidade pastoral, e já no começo do II século estavam incorporadas aos outros escritos do NT. Os Atos dos Apóstolos podem ser considerados a continuação do terceiro Evangelho, pois também foi escrito por Lucas. E o Apocalipse de S.João, livro profético, foi acrescentado por último.

Nos escritos do NT, freqüentemente se encontram citações do AT. É que muitas vezes os Apóstolos queriam tirar dúvidas sobre certas passagens, que tinham falsa interpretação. Nas assembléias, eram lidos escritos do AT e do NT, para explicá-los. Exemplo disto temos em I Tes 4,15; I Cor 7,10.25.40; At 15, 28; I Tim 5,18; Lc 10,7.

8. O Cânon Sagrado

No século IV, a Igreja se reuniu em Concilio em Nicéia, e uma das tarefas era organizar o "cânon", ou a lista de livros sagrados considerados autênticos. Neste Concilio, os livros foram estudados e se investigou quais os que sempre foram lidos nos cultos e sempre foram considerados legítimos. E se estabeleceu a ordem ainda hoje conservada. O motivo pelo qual alguns livros foram postos em dúvida era a grande quantidade de livros apócrifos, que fazia com que se duvidasse dos verdadeiros. Havia muitos livros que os judeus não aceitavam. Então os Ss. Padres ponderaram os prós e contras e definiram a lista que foi aprovada.

 

biblia luz o meu caminhar

O mês de setembro é conhecido pelos cristãos, principalmente por nós católicos, como o mês da Bíblia, uma vez que celebramos dia 30 de setembro a festa de São Jerônimo, grande tradutor da bíblia que, preocupado com sua divulgação e acessibilidade ao povo mais simples, traduziu a Palavra de Deus do hebraico e grego para o latim, o que muito facilitou à Igreja na propagação da Palavra Divina, uma vez que o latim, além de ser a língua oficial da Igreja Católica, era, naquela época, conhecida e dominada por todos que tinham o ensino médio. Hoje, graças a Deus, encontramos a Bíblia traduzida em todos os grandes idiomas, acessível a todas as pessoas.

A Bíblia é carta de amor de Deus Pai endereçada a todo humanidade, principalmente aos batizados, a cada um de nós seus filhos adotivos. Por isso, se queremos conhecer o Projeto de Deus e o que o mesmo tem a nos comunicar, aprendamos a meditar a Palavra Divina diariamente e, com certeza, encontraremos forças para conformar nossa vida à vontade de Deus Criador e Salvador, e assim abraçaremos a vida eterna. A Bíblia é, também, alimento para o cristão, pois como nos ensina Jesus Cristo: "Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra de Deus" (Lc 4,4).

Quando meditamos a Palavra Divina, acolhendo-a em nosso coração, estamos nos alimentando, nos fortificamos para vencer o mal, uma vez que a Palavra Divina é viva e eficaz e tem força para transformar corações.

A Palavra de Deus é ainda luz para a vida, como nos ensina o salmista: "A tua Palavra Senhor, é luz para o meu caminhar" (Sl 118,105). Todo aquele que a acolhe no seu coração, tem sua vida iluminada, tem uma vida transfigurada, torna-se luz para o irmão.

Se hoje vivemos numa sociedade mergulhada no pecado, na escuridão, é porque o mundo não conhece à Deus, não acolhe sua Palavra. Ora, nós, batizados cristãos, "estamos no mundo, mas não somos do mundo" (Jo 17,16), somos de Cristo, somos propriedade de Deus, fomos redimidos pelo sangue de Cristo, somos "povo santo", somos "raça sacerdotal" (cf 1 Pd 2,9).

Por isto, como cristãos precisamos meditar, acolher, vivenciar a Palavra Divina. Precisamos deixar que a mesma ilumine nossa vida, ilumine nosso coração. Com certeza, se assim fizermos, é sinal que o Espírito Santo está nos conduzindo; é sinal que somos verdadeiros discípulos missionários de Cristo Jesus, e à exemplo da virgem Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, teremos também frutos benditos para oferecer aos irmãos e assim glorificaremos também a Deus.

Que Deus conceda a todas as famílias, a você pai e a você mãe, a você filho, a graça de meditar, acolher, vivenciar a Palavra Divina. Assim as famílias, os lares, gozarão de vida, paz e alegria, e cada lar será um santuário de Deus, um pequeno céu aqui na terra. Façamos, a partir de hoje, o firme propósito de meditar diariamente a Palavra de Deus, e, com certeza, teremos nossas vidas iluminadas e santificadas, chegaremos a plenitude de nossa vocação, pois o céu e a terra passarão, mas a Palavra Divina comunica vida, permanece para sempre.

Dom Benedito Gonçalves dos Santos

 

Há muitas expressões na Sagrada Escritura que indicam o Senhor que fala ao seu povo, e manifestam a força de sua palavra que cria, repreende, educa, acompanha. Desde a forte palavra criadora do livro do Gênesis, passando pela intimidade com os patriarcas e profetas, que "emprestavam" a boca para Deus falar. De Moisés se diz que tinha uma grande amizade com Deus e o Senhor se entretinha com ele face a face. Deus fala!

"Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo. Ele é o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com a sua palavra poderosa. Tendo feito a purificação dos pecados, sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas, elevado tão acima dos anjos quanto o nome que ele herdou supera o deles" (Hb 1, 1-4).

"Por estas palavras, a carta aos Hebreus dá a entender que Deus emudeceu, por assim dizer, e nada mais tem a falar, pois o que antes dizia em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o Tudo, que é o seu Filho. Se agora, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, faria injúria a Deus não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o! (Mt 17,5). Já te disse todas as coisas em minha Palavra. Põe os olhos unicamente nele, pois nele tudo disse e revelei, e encontrarás ainda mais do que pedes e desejas" (Tratado "A subida do Monte Carmelo", de São João da Cruz, presbítero, Lib. 2, cap. 22).

A Igreja tem clara a convicção de que tudo o que é estritamente necessário já foi dito por Deus e encontra o fundamento de sua ação na Escritura Sagrada. Sabe também a Igreja que lhe foi dada a graça do discernimento, pela qual o sadio desdobramento daquilo que foi revelado é expresso nos ensinamentos que são oferecidos pelo longo e seguro exercício do magistério que acompanha a tradição viva, na qual existe a certeza da ação do Espírito Santo, que a acompanha e preserva do erro.

E Deus se calou? Temos a certeza de que continua a dizer sua Palavra, que ele inspira o bem, suscita a pregação corajosa do Evangelho, sustenta o testemunho dos cristãos. Sabemos que todas as chamadas revelações particulares são objeto de discernimento cuidadoso, pois são reconhecidas como estímulo à vivência do que se expressou na Sagrada Escritura, para que as pessoas não corram de um lado para outro em busca de novidades e pretensos anúncios, especialmente quando estes apontam para datas ou eventos extraordinários.

O que falta é o discernimento cotidiano e dedicado do que Deus nos fala através dos acontecimentos e de uma quantidade imensa de fatos simples e aparentemente corriqueiros. Deus nos fala através do próximo que grita pela nossa ajuda e pelo serviço de amor, dizendo que tudo o que fazemos ao menor dos irmãos é feito a Jesus. Deus nos fala pela última notícia de violência, que nos assusta e escandaliza, a dizer-nos que nos foi oferecido o caminho para a paz, através dos mandamentos e a prática da fraternidade. Deus nos fala pela Igreja que se reúne e proclama a cada dia a Palavra Sagrada, fonte de vida e santidade. Deus nos fala pelo testemunho corajoso de pessoas que vivem o Evangelho, arrastando com seu exemplo gente que vivia na lama do pecado. Deus nos fala através de seus enviados, e basta pensar na lucidez com que o Papa Francisco tem oferecido à Igreja e o mundo as propostas de vivência do Evangelho e amor ao próximo. Não faltam palavras vindas da boca de Deus. O que pode faltar são ouvidos atentos.

A Igreja celebra neste final de semana o Batismo de Jesus, quando o Senhor vai ao Rio Jordão, onde João Batista pregava a penitência e a conversão, justamente na preparação da plena manifestação do Messias esperado. Diante de um João Batista surpreso, que diz "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim" (Mt 3,13-17), Jesus entra na fila dos pecadores, ele que é o Cordeiro sem mancha que tira o pecado do mundo! E ali, no gesto de imensa humildade de Jesus, acontece a revelação da intimidade de Deus Trindade. O Filho nas águas, o Espírito em forma de uma pomba e a voz do Pai: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado".

O Senhor Jesus confiou uma missão à Igreja, de ir pelo mundo inteiro e anunciar a Boa-Nova. "Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado" (Mc 16,16). Prometeu inclusive "sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados" (Mc 16,17-18). O mesmo Senhor Jesus, que falou com seus discípulos, "foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus" (Mc 16,19).

Como os primeiros discípulos, está agora em nossas mãos o anúncio da Boa-Nova. Pedimos a Deus que se multipliquem os operários para a sua messe, vindos de todas os cantos, dispostos a transformar sua vida e sua palavra em testemunho corajoso do Senhor, diante de um mundo que anseia pela palavra de Deus. De fato, a sede e fome da voz de Deus está presente, mesmo quando as pessoas não sabem dar nome ao grito que brota de dentro de si, no cumprimento da palavra profética: "Dias hão de vir, quando hei de mandar à terra uma fome, que não será fome de pão nem sede de água, e sim de ouvir a Palavra do Senhor" (Am 8,11).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)

 

batismo do senhor

 

O Evangelista Lucas lembra que Deus não discrimina ninguém. Ele aceita toda pessoa que o respeita e realiza a justiça (Cf. Atos 10, 34.35). Não à toa Jesus veio solidarizar-se conosco, apoiando todo ser humano de boa vontade, que deseje realmente ser do bem e da prática do que é justo. Seu batismo no Jordão se deu, mostrando que é um de nós, fazendo conosco o rito e a prática do endereçamento da vida para realizar o projeto de Deus. Aliás, ao próprio João, a quem ele pediu o batismo, e que dizia ser ele o necessitado do batismo de Jesus, ele disse: "Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça" (Mateus 3,15).

O Filho de Deus não precisava submeter-se ao sofrimento, aos limites e ao batismo humano. João Batista realizava a lavadura com indicação da conversão e da purificação dos pecados. Mas Jesus quis, ao ser batizado com o sentido dado por João, para nos revelar o projeto do Pai, ou seja, o ser humano precisa de passar pelo crivo de mudança, lavando-se do egoísmo, da injustiça e de toda a forma de erro moral e discriminação. Seguindo-o, nós realizamos a justiça misericordiosa praticada e ensinada em toda a sua vida. As parábolas do filho pródigo, da ovelha perdida e do bom samaritano, bem como a realização de seu martírio mostram sobejamente o sentido do batismo assumido por Ele. Mais: Ele institui o novo batismo, que não é a pura conversão humana, aquela capaz de fazer a justiça de relação do amor entre Deus e o ser humano. É o batismo com a ação do Espírito Santo, que apareceu em forma de pomba quando Ele era batizado no rio Jordão. Agora sim! O batismo que recebemos, com a ação do Espírito Santo, nos torna capazes de ficar puros e justos perante Deus e os seres humanos. Assumir o batismo a vida toda é nosso maior desafio!

O profeta Isaías já contemplava o que o Espírito Santo iria depois afirmar sobre Jesus, que era batizado por João (Cf. Mateus 3,16.17): "Nele se compraz minha alma; pus o meu espírito sobre ele... Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos. Eu, o Senhor, te chamei para a justiça...!" (Isaías 42,1.4.6).

O batismo instituído por Jesus vai além do pedido de justiça, ou seja, da vontade humana de chegar a Deus e obter seu amor e a felicidade plena com Ele, na obtenção de sua graça. Não é o humano tentando, sem forças, ir ao divino. É o divino dando forças ao humano, para que Ele realize do projeto de Deus, ou seja, de viver como imagem e semelhança do Criador. O Senhor da história cuida com absoluta perfeição e todo o amor de suas criaturas. O ser humano cuida da terra com carinho e amor privilegiado ao semelhante. Há, então, verdadeira justiça, como a implantada por Jesus. As discriminações são superadas, a verdade e o bem são vivenciados. O compromisso batismal se torna realidade. Há paz. A vontade de Deus se torna a vontade humana. A aliança entre o humano e o divino acontece. Os efeitos da morte e ressurreição do Filho se dão. A verdade, a justiça e o amor se entrelaçam para o bem de toda a humanidade. Daí para frente, a missão de levar a salvação para todos é assumida por quem vive a nova aliança.

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)

A sagrada familia

O Evangelho proclamado no dia da festa da Sagrada Família nos recorda a dificuldade que a Família de Nazaré encontrou para realizar o projeto de salvação de Deus.

A situação se repete hoje na história de muitas famílias que se vêem obrigado a fugir, ameaçadas por muitos perigos, por muitos Herodes: droga, violência, pobreza...

Mas, apesar de tudo, uma certeza o evangelho de hoje nos dá: Deus não nos abandona! Ele nos aponta outros caminhos, abre estradas, suscita anjos para nos ajudar.

Se Deus teve um projeto para Sagrada Família, e cumpriu esse projeto, também o tem para nossas famílias e não nos deixará sozinhos.

As forças de Herodes de hoje não são maiores do que as forças do Deus de Jesus, Maria e José.

Oração:
Pai, que a fidelidade demonstrada pela Sagrada Família de Nazaré seja exemplo para as famílias cristãs, cuja fé é provada em meio a tribulações.Amém!!!

Frei João Fernandes Reinert, OFM
Duque de Caxias - Rio de Janeiro

 

Outra mensagem de Aparecida é a pequenez, na qual se revela a grandeza de Deus. A pequenina "imagem" de terracota encontra-se, hoje, entronizada, com coroa e manto de rainha, no Santuário Nacional. Diante dela, pagando e agradecendo promessas, retornando à fé batismal, reafirmando compromissos com o Evangelho, desfilam milhões de peregrinos.

Na imponente basílica de Aparecida, tudo é grande nos seus espaços externos e internos para mostrar a grandeza do coração da Mãe que acolhe a multidão de filhos. Só Ela é pequenina naquela frágil imagem de cor morena, achada em pedaços no fundo das águas do rio e entronizada no majestoso templo. Nestes sinais temos, mais uma vez, a lição de como Deus exalta a pequenez olhando para a humildade da sua serva e levando todas as gerações a proclamá-la "a bendita entre as mulheres".

Aparecida traz também a mensagem da oração. A imagem de Maria mantém as mãos postas, em atitude de oração, ensinando-nos que a oração não necessita de palavras, basta o gesto. O Reino de Deus não se constrói com palavras, mas com gestos de fraternidade, justiça e paz. E o mais importante deles é o gesto das mãos postas, atitude de oração. Parece ainda que, com esse gesto, ela quer mostrar-nos sua principal missão junto do seu Filho: a onipotência suplicante, o poder da sua intercessão.

Proclamada como rainha e padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida estende sobre todos seu manto maternal, revelando, como seu divino Filho, sua predüeção pêlos pobres. Afinal são eles os que formam a maioria dos romeiros e devotos que acorrem à Senhora Aparecida, a mãe dos pobres

 

Nossa Senhora Apareçida mãe dos pobres

 

Os brasileiros celebram, no próximo dia 12, a festa de sua rainha e padroeira, Nossa Senhora Aparecida. É uma devoção que se enraizou na alma e na vida do povo, sobretudo entre os pobres e pequenos.

Numa cidadezinha do Vale do Paraíba, ergue-se majestoso o Santuário Nacional, o centro da piedade mariana dos brasileiros. Para lá acorrem, anualmente, milhões de peregrinos que vão até o altar de Nossa Senhora para agradecer e pedir-lhe proteção.

Como em Aparecida, Maria é louvada em muitas cidades do mundo, com os mais diferentes títulos. Em alguns lugares ela apareceu geralmente mediante imagens luminosas a extasiar os olhos dos videntes. Assim foi em Guadalupe, no México, quando apareceu, em 1531, ao índio João Diogo, na colina de Tepyac, descrita como "uma imagem que proveio de flores colhidas num terreno totalmente estéril".

Assim foi em Lurdes, na França, vista por uma menina de 14 anos, Bernadete Soubirous, ingênua e humilde, que não sabia ler nem escrever direito; era imagem de "uma senhora com a faces radiantes, vestida de branco com uma faixa azul, toda sorridente". Assim foi em Fátima, em lugar espaçoso e descampado, denominado Cova da Iria; do céu e apareceu vestida de luz a três crianças pastores, Lúcia, Francisco e Jacinta. Se foram diferentes as manifestações, algo em comum estas aparições revelam: Maria sempre se apresentou aos pequenos e humildes. Como Jesus que dentre os pobres chama os seus primeiros apóstolos, entre os pobres a Mãe de Jesus costuma escolher os mensageiros de suas aparições.

No Brasil, Maria apareceu na forma de uma pequenina imagem, e novamente revelando-se aos pobres. Em outubro de 1717, num admirável acontecimento nas águas do rio Paraíba, próximo ao Porto de Itaguaçu, ela se revelou. Domingos Martins Garcia, João Alves e Filipe Pedroso saíram a pescar.

Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu. João Alves lançou a rede e apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça da mesma imagem.

Dali por diante foi tão copiosa a pescaria que, receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, retiraram-se a suas

casas, admirados deste sucesso.

A partir desses acontecimentos, a imagem de Nossa Senhora é acolhida com amor na humildade do lar de um dos pescadores que se torna ponto de encontro para orações. Era uma imagem pequenina e frágil, 36 centímetros de altura, feita de barro cozido. O culto da "imagem" nasce do povo simples e vai se estendendo a devoção à Senhora Aparecida. Por toda parte, ela é invocada como mãe e padroeira. Forma-se assim a religiosidade de uma nação.

Outra mensagem de Aparecida é a pequenez, na qual se revela a grandeza de Deus. A pequenina "imagem" de terracota encontra-se, hoje, entronizada, com coroa e manto de rainha, no Santuário Nacional. Diante dela, pagando e agradecendo promessas, retornando à fé batismal, reafirmando compromissos com o Evangelho, desfilam milhões de peregrinos.

Na imponente basílica de Aparecida, tudo é grande nos seus espaços externos e internos para mostrar a grandeza do coração da Mãe que acolhe a multidão de filhos. Só Ela é pequenina naquela frágil imagem de cor morena, achada em pedaços no fundo das águas do rio e entronizada no majestoso templo. Nestes sinais temos, mais uma vez, a lição de como Deus exalta a pequenez olhando para a humildade da sua serva e levando todas as gerações a proclamá-la "a bendita entre as mulheres".

Aparecida traz também a mensagem da oração. A imagem de Maria mantém as mãos postas, em atitude de oração, ensinando-nos que a oração não necessita de palavras, basta o gesto. O Reino de Deus não se constrói com palavras, mas com gestos de fraternidade, justiça e paz. E o mais importante deles é o gesto das mãos postas, atitude de oração. Parece ainda que, com esse gesto, ela quer mostrar-nos sua principal missão junto do seu Filho: a onipotência suplicante, o poder da sua intercessão.

Proclamada como rainha e padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida estende sobre todos seu manto maternal, revelando, como seu divino Filho, sua predüeção pêlos pobres. Afinal são eles os que formam a maioria dos romeiros e devotos que acorrem à Senhora Aparecida, a mãe dos pobre

 

Agua fonte de vida

 

Aproxima-se o tempo da Quaresma, no qual nos preparamos para a celebração da Páscoa do Senhor. É um tempo sagrado em que somos convidados à penitência e à conversão, para dignamente celebrarmos a morte e ressurreição de Jesus.

No Brasil, durante a Quaresma, celebra-se a Campanha da Fraternidade, que tem uma dimensão comunitária especial: despertar o amor e a solidariedade. Ela é uma manifestação de evangelização libertadora, propondo a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade. Apresenta a cada ano um tema específico de reflexão e ação, tratado à luz do projeto de Deus.

A Campanha da Fraternidade deste ano quer refletir sobre a água. O tema "Fraternidade e água" e o lema "Água, fonte de vida" justificam-se por causa dos grandes problemas que o Brasil e o mundo enfrentam. Todas as formas de vida dependem da água. Não se pode separar vida e água, pois sem ela não existe vida. Segundo estudos da ONU, 40 % da humanidade terão problemas com o abastecimento de água até 2025. Além disso, a Campanha da Fraternidade quer nos lembrar que poluir as águas, danificar os rios e os lençóis subterrâneos, destruir as nascentes são atentados contra a vida.
A água tem uma dimensão vital e sagrada que precisa ser cultivada. É responsabilidade de todos zelar pela qualidade de nossas águas e pelo acesso de todos a elas. Por isso, a Campanha da Fraternidade, em seu texto-base, apresenta como objetivo principal: "Conscientizar a sociedade de que a água é fonte de vida, uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da pessoa humana, e mobilizá-la para que esse direito da água com qualidade seja efetivado para as gerações presentes e futuras."

Como objetivos específicos, o texto-base propõe: "conhecer a realidade hídrica do Brasil a partir da realidade local; desenvolver uma mística ecológica que resgate o valor da água nos seus fundamentos mais profundos; apoiar e valorizar as iniciativas já existentes no tocante ao cuidado com a água, preservação das águas, captação da água da chuva e recuperação dos mananciais degradados; provocar e alimentar a solidariedade entre os que têm água e os que não têm; defender a participação popular na elaboração de uma política hídrica para que a água seja de fato de domínio público e seja gerenciada pelo poder público com participação da sociedade civil e comunidade local."

Além de apoiar as iniciativas já existentes, a campanha propõe a articulação de todos os setores da sociedade, em defesa dessa essência da vida biológica. Propõe, ainda, uma série de ações na linha da sensibilização, do conhecimento, do cuidado, do compromisso com os "sem-água", na mudança da política hídrica, numa nova mística da água. Tudo isso baseado no princípio sagrado de que a água é, por excelência, bem de destinação universal. A primazia da vida se estabelece sobre todos os outros possíveis usos desse líquido precioso, pois nenhum outro uso da água, nenhuma decisão de ordem política, de mercado ou de poder se sobrepõe às leis básicas da vida.

A importância da água, a sua escassez, a conscientização para o uso racional, a denúncia contra a agressão do homem à natureza que compromete as fontes e contra a poluição de nossos mares e rios, tudo isso será objeto de reflexão da Campanha da Fraternidade. Na a Campanha da Fraternidade deve nos encorajar na luta pela preservação dos recursos hídricos. Essa luta não é apenas ecológica, mas assume dimensões de fé, pois é nosso dever preservar os bens criados por Deus. E é também questão de sobrevivência, pois, como diz o lema da campanha, a água é fonte de vida!

 

maria a primeira evangelizadora

 

Para os católicos, o mês de maio é consagrado a Maria Santíssima. Trata-se de uma devoção popular de longa data, que foi assumida pela Igreja, para venerar de modo mais significativo a Mãe de Jesus.

Para vir ao mundo, o Salvador quis nascer no seio de uma família e escolheu para sua mãe uma mulher especial, plena da graça divina. Mas não escolheu entre as grandes mulheres da sociedade, nem nos palácios. Quis para sua mãe uma menina simples, pobre, da periferia. Deus quis nascer e viver no meio dos pobres.

A grandeza de Maria não está apenas na sua maternidade divina, mas principalmente porque ela foi uma mulher de fé, dócil à palavra de Deus. Sua fé se explicitava na vida de oração e contemplação divina e também na prática do amor, amor que se concretizava em gestos de serviço. Vemos Maria em oração, mas também a vemos indo ao encontro da prima Isabel para ajudá-la, ou presente entre os serviçais nas bodas de Cana.

Muitas vezes os artistas retratam Maria como um ser divino, angelical, ofuscando-lhe a identidade humana que precisa ser ressaltada. Maria foi, acima de tudo, mulher, mãe, companheira, alguém que viveu em plenitude sua feminilidade. Como foram marcantes, no filme "Paixão de Cristo", as cenas em que Maria chama a atenção de seu Filho, é alvo de
sua brincadeira, corre para acudir o Menino Jesus que caiu e, mais tarde, para consolá-lo quando carregava a cruz! Outras vezes a retraíam como uma mulher abatida, derrotada, mas na realidade ela é a mulher forte e corajosa que vai ao encontro do filho a caminho do Calvário e que está firme aos pés da cruz.

O amor do povo por Maria vem desde os primórdios do cristianismo. E essa devoção popular se manifesta numa veneração muito grande, sendo louvada pêlos mais diferentes títulos. Ela é a mãe do Deus Salvador, a mãe da Igreja, a mãe de toda a humanidade.

Este ano, celebramos 150 anos de proclamação do dogma da Imaculada Conceição. Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio 9, com a bula dogmática "Ineffabilis Deus, afirmou ser revelada por Deus a doutrina que afirma que a beatíssima Virgem Maria foi preservada, por particular graça e privilégio de Deus onipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, de toda mancha de pecado original desde o primeiro instante de sua concepção."

Outro acontecimento importante é a o centenário da coroação de Nossa Senhora Aparecida, por quem os fiéis brasileiros têm profundíssima devoção. No próximo dia 8 de setembro, comemoramos o centésimo ano da coroação áurea de sua imagem, conservada em Aparecida. Em 1904, por ordem do Papa São Pio 10, houve a cerimônia de coroação, com a jóia oferecida pela princesa Isabel. Mais tarde, em 1930, ela foi declarada Padroeira do Brasil por determinação do Papa Pio 11.

Maria, como Estrela da Evangelização, aponta para a Igreja o caminho de seu divino Filho. Ela é a primeira evangelizadora, pois foi o instrumento de Deus para a vinda de Jesus entre nós. Ela é também a mais perfeita seguidora do evangelho de Cristo, a mulher de profunda fé que colocou em prática todos os ensinamentos do Divino Mestre.

É vivendo os ensinamentos de Cristo que manifestamos nossa devoção a Maria. Mais que orações, cantos e flores, ela espera de nós que sejamos fiéis discípulos de Jesus e, por isso, continua a nos orientar, como o fez nas bodas de Cana: "Façam tudo o que Ele disser."

 

 

A Eucaristia é o presente de amor que Jesus nos deixou como alimento

A Eucaristia é o presente de amor que Jesus nos deixou, o sacramento do seu corpo e sangue dados a nós como alimento. Foi na "hora de passar deste mundo para o Pai" que Jesus instituiu a Eucaristia como sinal da sua presença entre nós. Presença real e verdadeira e não apenas simbólica, conforme a fé católica: "Isto é o meu corpo que será entregue por vós... Este cálice é a aliança no meu sangue que será derramado por vós." Eis a realidade do seu sacrifício redentor na cruz: corpo entregue, sangue derramado por toda a humanidade.

No sinal do pão, este santo sacramento torna viva e permanente a presença do Amor nos sacrários de nossas Igrejas e dá por cumprida a promessa que fez aos Apóstolos: "Não vos deixarei órfãos". E mais concretamente: "Eu estarei sempre convosco até o fim dos tempos".

Também realiza a nossa mais íntima comunhão de vida com Aquele que nos amou até o fim: "Quem come a minha carne e bebe meu sangue vive em mim e eu nele."

O Concilio Vaticano 2° vê na Eucaristia a fonte e o ápice da vida cristã. Enquanto fonte, a Eucaristia faz a Igreja, segundo a bela expressão do apóstolo Paulo: "Todos que comemos do mesmo Pão formamos um só Corpo... Somos muitos mas formamos um só Corpo", que é a Igreja. Enquanto ápice, aí temos a Igreja que faz a Eucaristia no cumprimento do mandamento do Senhor: "Fazei isto em memória de mim". Ponto alto da vida cristã: a celebração da Eucaristia que nos faz participantes da vida de Cristo, sobretudo no momento em que entrega sua vida na cruz pela vida do mundo.

A nossa fé diz mais ainda: tudo na Igreja caminha na direção da Eucaristia, centro para o qual convergem todos os sacramentos. Somos batizados para podermos nos inserir na comunidade que celebra a Ceia Pascal da nova aliança; crismados somos para testemunhar que a Ceia Pascal da nova aliança realiza o sacrifício da nossa salvação; buscamos a re conciliação com Deus na Confissão para podermos receber o "Pão da Vida" que é partilhado na Ceia Pascal; o sacramento da Ordem tem por finalidade fazer a Ceia Pascal na comunidade dos discípulos do Senhor, em sua memória; o Matrimônio multiplica os filhos de Deus para que não faltem participantes na Ceia Pascal e a Unção dos Enfermos fortalece com o "Pão dos Anjos" os;'que se aproximam do fim da viagem.

Mas a Eucaristia também exige nosso compromisso de fraternidade. A Eucaristia não é apenas expressão de comunhão na vida da Igreja; ela também é projeto de solidariedade. O cristão que participa da Eucaristia aprende dela a fazer-se promotor de comunhão, de paz, de solidariedade.

Que a comunhão recebida seja para todos ocasião preciosa para uma renovada consciência do tesouro incomparável que Cristo confiou à sua Igreja. Recebendo o Corpo e o Sangue do Senhor, vivendo seus ensinamentos, aprofundemo-nos nesse sagrado mistério e possamos dizer como o apóstolo Paulo "Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim."

 

santo antonio

 

No dia 13 de junho, a Igreja celebra a festa de Santo Antônio, um dos santos mais populares.

Antônio, "o santo". Assim carinhosamente o chamam seus devotos por toda a Itália, sobretudo em Pádua, cidade que escolheu como seu último lar. Na boca do povo, basta pronunciar "il santo" e todos entendem de quem se trata. Não é título hierárquico, nem honorífico. Estes se tornam, facilmente, um perigo para satisfazer vaidades. Ser santo é a mais sublime vocação da vida humana. Não há quem dela seja excluído no pensamento de Deus. Excluído se faz somente quem não aceita o chamado.

A vida de Antônio não foi além dos 36 anos. Com pouco tempo de vida realizou muito pelo reino de Deus. Nasceu de uma família exemplarmente cristã. Aos 15 anos despertara para a vida religiosa, atendendo, generosamente, ao convite de Jesus. Tempos depois, já no mosteiro agostiniano de Coimbra, seu amor ao próximo radicalizou-se através de dois gestos concretos.

Primeiramente, a troca de hábitos, deixando o de monge e vestindo o de frade franciscano. Expressava assim sua opção de amor por aqueles pobres que mendigavam as sobras dos lautos banquetes dos ricos nos arredores de Coimbra. Nessa oportunidade, muda o nome de Fernando, recebido no batismo, para Antônio.

Mas seu amor ao próximo o fez enxergar, principalmente, os pobres que mendigavam a fé e parte, então, como missionário, para a África. E de Portugal para o mundo. A providência divina não o quis em Marrocos, onde, vítima de uma epidemia, adoeceu. Não o quis também de volta à pátria. É quando inicia sua vida missionária a estender-se pela Itália e França.

Nesse tempo, conheceu de perto Francisco de Assis: dois santos diferentes que se completam. Ambos nascidos de famílias ricas: Francisco, filho de rico comerciante; Antônio, de família nobre. Ambos abandonam a vida que lhes garantiria um futuro de glórias mundanas e seguem o impulso do Espírito de Cristo que os unge e os envia a evangelizar os pobres. Francisco apaixona-se pelo crucificado; Antônio, pela palavra de Deus. Ambos sentem-se chamados a transformar o mundo.

Penso que três grandes ideias dominam a pregação de Antônio. Antes de tudo, pregara o evangelho da paz: a paz dos corações que nasce da verdade; a paz na família, cuja fonte é o amor; a paz na sociedade, fruto da justiça. Outra idéia que sempre volta em seus sermões: a reforma dos costumes. Ousadia e veemência não lhe faltam ao denunciar os escândalos provocados pêlos homens públicos de seu tempo e muitos deles chegaram a manifestar sinais de conversão.

Pregadores com a santidade de Antônio não podem se calar nos dias de hoje face ao deplorável comportamento ético na vida pública e ao desrespeito dos valores morais que fundamentam a dignidade humana. Por fim, outro tema predileto do nosso santo: a defesa dos pobres. Fez-se companheiro do "Poverello" com o propósito de testemunhar com o exemplo mais do que com a palavra seu amor por aqueles aos quais Jesus Cristo manifestara sua predileção. Pobre, no seguimento do evangelho, é quem renúncia ao egoísmo e vive a prática da partilha e solidariedade com os que se tornam pobres por causa do egoísmo dos que buscam, em tudo, seu próprio interesse. Santo Antônio quer realmente de seus devotos que cresçam na fome do pão da justiça.

Sabedoria e coragem são as marcas da sua pregação, haurida no estudo orante da Sagrada Escritura. Por essa razão, a Igreja lhe conferiu, por Pio 12, o significativo título de "doutor evangélico".

Mas a razão da sua grande popularidade se explica, muito mais, pela expressão do papa Paulo 6° que o chamou de "um santo cortês": sabe acolher, atrair e ganhar confiança. Sua imagem, nos altares de nossas igrejas, bem o retraía: figura de jovem, olhar sereno, hábito franciscano, Bíblia na mão e o Menino Jesus nos braços. Ele continua a ser, no céu, junto de Deus, o que foi, na terra, entre os homens: sempre cortês.

 

 

Material de Estudos Para Catequese Infantil

O diálogo entre fé e razão

32. A fé cristã, enquanto anuncia a verdade do amor total de Deus e abre para a força deste amor, chega ao centro mais profundo da experiência de cada homem, que vem à luz graças ao amor e é chamado ao amor para permanecer na luz. Movidos pelo desejo de iluminar a realidade inteira a partir do amor de Deus manifestado em Jesus e procurando amar com este mesmo amor, os primeiros cristãos encontraram no mundo grego, na sua fome de verdade, um parceiro idóneo para o diálogo. O encontro da mensagem evangélica com o pensamento filosófico do mundo antigo constituiu uma passagem decisiva para o Evangelho chegar a todos os povos e favoreceu uma fecunda sinergia entre fé e razão, que se foi desenvolvendo no decurso dos séculos até aos nossos dias. O Beato João Paulo II, na sua carta encíclica Fides et ratio, mostrou como fé e razão se reforçam mutuamente. [27] Depois de ter encontrado a luz plena do amor de Jesus, descobrimos que havia, em todo o nosso amor, um lampejo daquela luz e compreendemos qual era a sua meta derradeira; e, simultaneamente, o facto de o nosso amor trazer em si uma luz ajuda-nos a ver o caminho do amor rumo à plenitude da doação total do Filho de Deus por nós. Neste movimento circular, a luz da fé ilumina todas as nossas relações humanas, que podem ser vividas em união com o amor e a ternura de Cristo.

33. Na vida de Santo Agostinho, encontramos um exemplo significativo deste caminho: a busca da razão, com o seu desejo de verdade e clareza, aparece integrada no horizonte da fé, do qual recebeu uma nova compreensão. Por um lado, acolhe a filosofia grega da luz com a sua insistência na visão: o seu encontro com o neoplatonismo fez-lhe conhecer o paradigma da luz, que desce do alto para iluminar as coisas, tornando-se assim um símbolo de Deus. Desta maneira, Santo Agostinho compreendeu a transcendência divina e descobriu que todas as coisas possuem em si uma transparência, isto é, que podiam reflectir a bondade de Deus, o Bem; assim se libertou do maniqueísmo, em que antes vivia, que o inclinava a pensar que o bem e o mal lutassem continuamente entre si, confundindo-se e misturando-se, sem contornos claros. O facto de ter compreendido que Deus é luz deu à sua existência uma nova orientação, a capacidade de reconhecer o mal de que era culpado e voltar-se para o bem.

Mas, por outro lado, na experiência concreta de Agostinho, que ele próprio narra nas suas Confissões, o momento decisivo no seu caminho de fé não foi uma visão de Deus para além deste mundo, mas a escuta, quando no jardim ouviu uma voz que lhe dizia: « Toma e lê »; ele pegou no tomo com as Cartas de São Paulo, detendo-se no capítulo décimo terceiro da Carta aos Romanos.[28] Temos aqui o Deus pessoal da Bíblia, capaz de falar ao homem, descer para viver com ele e acompanhar o seu caminho na história, manifestando-Se no tempo da escuta e da resposta.

Mas, este encontro com o Deus da Palavra não levou Santo Agostinho a rejeitar a luz e a visão, mas integrou ambas as perspectivas, guiado sempre pela revelação do amor de Deus em Jesus. Deste modo, elaborou uma filosofia da luz que reúne em si a reciprocidade própria da palavra e abre um espaço à liberdade própria do olhar para a luz: tal como à palavra corresponde uma resposta livre, assim também a luz encontra como resposta uma imagem que a reflecte. Deste modo, associando escuta e visão, Santo Agostinho pôde referir-se à « palavra que resplandece no interior do homem ».[29] A luz torna-se, por assim dizer, a luz de uma palavra, porque é a luz de um Rosto pessoal, uma luz que, ao iluminar-nos, nos chama e quer reflectir-se no nosso rosto para resplandecer a partir do nosso íntimo. Por outro lado, o desejo da visão do todo, e não apenas dos fragmentos da história, continua presente e cumprir-se-á no fim, quando o homem — como diz o Santo de Hipona — poderá ver e amar;[30] e isto, não por ser capaz de possuir a luz toda, já que esta será sempre inexaurível, mas por entrar, todo inteiro, na luz.

34. A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade. Muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida a autenticidade subjectiva do indivíduo, válida apenas para a vida individual. Uma verdade comum mete-nos medo, porque a identificamos — como dissemos atrás — com a imposição intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é a verdade do amor, se é a verdade que se mostra no encontro pessoal com o Outro e com os outros, então fica livre da reclusão no indivíduo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o indivíduo; nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada homem; daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos.

Por outro lado, enquanto unida à verdade do amor, a luz da fé não é alheia ao mundo material, porque o amor vive-se sempre com corpo e alma; a luz da fé é luz encarnada, que dimana da vida luminosa de Jesus. A fé ilumina também a matéria, confia na sua ordem, sabe que nela se abre um caminho cada vez mais amplo de harmonia e compreensão. Deste modo, o olhar da ciência tira benefício da fé: esta convida o cientista a permanecer aberto à realidade, em toda a sua riqueza inesgotável. A fé desperta o sentido crítico, enquanto impede a pesquisa de se deter, satisfeita, nas suas fórmulas e ajuda-a a compreender que a natureza sempre as ultrapassa. Convidando a maravilhar-se diante do mistério da criação, a fé alarga os horizontes da razão para iluminar melhor o mundo que se abre aos estudos da ciência.

A fé e a busca de Deus

35. A luz da fé em Jesus ilumina também o caminho de todos aqueles que procuram a Deus e oferece a contribuição própria do cristianismo para o diálogo com os seguidores das diferentes religiões. A Carta aos Hebreus fala-nos do testemunho dos justos que, antes da Aliança com Abraão, já procuravam a Deus com fé; lá se diz, a propósito de Henoc, que « tinha agradado a Deus », sendo isso impossível sem a fé, porque « quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que O procuram » (Heb 11, 5.6). Deste modo, é possível compreender que o caminho do homem religioso passa pela confissão de um Deus que cuida dele e que Se pode encontrar. Que outra recompensa poderia Deus oferecer àqueles que O buscam, senão deixar-Se encontrar a Si mesmo? Ainda antes de Henoc, encontramos a figura de Abel, de quem se louva igualmente a fé, em virtude da qual foram agradáveis a Deus os seus dons, a oferenda dos primogénitos dos seus rebanhos (cf. Heb 11, 4). O homem religioso procura reconhecer os sinais de Deus nas experiências diárias da sua vida, no ciclo das estações, na fecundidade da terra e em todo o movimento do universo. Deus é luminoso, podendo ser encontrado também por aqueles que O buscam de coração sincero.

Imagem desta busca são os Magos, guiados pela estrela até Belém (cf. Mt 2, 1-12). A luz de Deus mostrou-se-lhes como caminho, como estrela que os guia ao longo duma estrada a descobrir. Deste modo, a estrela fala da paciência de Deus com os nossos olhos, que devem habituar-se ao seu fulgor. Encontrando-se a caminho, o homem religioso deve estar pronto a deixar-se guiar, a sair de si mesmo para encontrar o Deus que não cessa de nos surpreender. Este respeito de Deus pelos olhos do homem mostra-nos que, quando o homem se aproxima d’Ele, a luz humana não se dissolve na imensidão luminosa de Deus, como se fosse um estrela absorvida pela aurora, mas torna-se tanto mais brilhante quanto mais perto fica do fogo gerador, como um espelho que reflecte o resplendor. A confissão de Jesus, único Salvador, afirma que toda a luz de Deus se concentrou n’Ele, na sua « vida luminosa », em que se revela a origem e a consumação da história.[31] Não há nenhuma experiência humana, nenhum itinerário do homem para Deus que não possa ser acolhido, iluminado e purificado por esta luz. Quanto mais o cristão penetrar no círculo aberto pela luz de Cristo, tanto mais será capaz de compreender e acompanhar o caminho de cada homem para Deus.

Configurando-se como caminho, a fé tem a ver também com a vida dos homens que, apesar de não acreditar, desejam-no fazer e não cessam de procurar. Na medida em que se abrem, de coração sincero, ao amor e se põem a caminho com a luz que conseguem captar, já vivem — sem o saber — no caminho para a fé: procuram agir como se Deus existisse, seja porque reconhecem a sua importância para encontrar directrizes firmes na vida comum, seja porque sentem o desejo de luz no meio da escuridão, seja ainda porque, notando como é grande e bela a vida, intuem que a presença de Deus ainda a tornaria maior. Santo Ireneu de Lião refere que Abraão, antes de ouvir a voz de Deus, já O procurava « com o desejo ardente do seu coração » e « percorria todo o mundo, perguntando-se onde pudesse estar Deus », até que « Deus teve piedade daquele que, sozinho, O procurava no silêncio ».[32] Quem se põe a caminho para praticar o bem, já se aproxima de Deus, já está sustentado pela sua ajuda, porque é próprio da dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhos, quando caminhamos para a plenitude do amor.

Fé e teologia

36. Como luz que é, a fé convida-nos a penetrar nela, a explorar sempre mais o horizonte que ilumina, para conhecer melhor o que amamos. Deste desejo nasce a teologia cristã; assim, é claro que a teologia é impossível sem a fé e pertence ao próprio movimento da fé, que procura a compreensão mais profunda da auto-revelação de Deus, culminada no Mistério de Cristo. A primeira consequência é que, na teologia, não se verifica apenas um esforço da razão para perscrutar e conhecer, como nas ciências experimentais. Deus não pode ser reduzido a objecto; Ele é Sujeito que Se dá a conhecer e manifesta na relação pessoa a pessoa. A fé recta orienta a razão para se abrir à luz que vem de Deus, a fim de que ela, guiada pelo amor à verdade, possa conhecer Deus de forma mais profunda. Os grandes doutores e teólogos medievais declararam que a teologia, enquanto ciência da fé, é uma participação no conhecimento que Deus tem de Si mesmo. Por isso, a teologia não é apenas palavra sobre Deus, mas, antes de tudo, acolhimento e busca de uma compreensão mais profunda da palavra que Deus nos dirige: palavra que Deus pronuncia sobre Si mesmo, porque é um diálogo eterno de comunhão, no âmbito do qual é admitido o homem.[33] Assim, é própria da teologia a humildade, que se deixa « tocar » por Deus, reconhece os seus limites face ao Mistério e se encoraja a explorar, com a disciplina própria da razão, as riquezas insondáveis deste Mistério.

Além disso, a teologia partilha a forma eclesial da fé; a sua luz é a luz do sujeito crente que é a Igreja. Isto implica, por um lado, que a teologia esteja ao serviço da fé dos cristãos, vise humildemente preservar e aprofundar o crer de todos, sobretudo dos mais simples; e por outro, dado que vive da fé, a teologia não considera o magistério do Papa e dos Bispos em comunhão com ele como algo de extrínseco, um limite à sua liberdade, mas, pelo contrário, como um dos seus momentos internos constitutivos, enquanto o magistério assegura o contacto com a fonte originária, oferecendo assim a certeza de beber na Palavra de Cristo em toda a sua integridade.

CAPÍTULO III

TRANSMITO-VOS AQUILO QUE RECEBI
(cf. 1 Cor 15, 3)

A Igreja, mãe da nossa fé

37. Quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu a sua luz, não pode guardar este dom para si mesmo. Uma vez que é escuta e visão, a fé transmite-se também como palavra e como luz; dirigindo-se aos Coríntios, o apóstolo Paulo utiliza precisamente estas duas imagens. Por um lado, diz: « Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos » (2 Cor 4, 13); a palavra recebida faz-se resposta, confissão, e assim ecoa para os outros, convidando-os a crer. Por outro, São Paulo refere-se também à luz: « E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem » (2 Cor 3, 18); é uma luz que se reflecte de rosto em rosto, como sucedeu com Moisés cujo rosto reflectia a glória de Deus depois de ter falado com Ele: « [Deus] brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo » (2 Cor 4, 6). A luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos como num espelho, e assim se difunde chegando até nós, para que também nós possamos participar desta visão e reflectir para outros a sua luz, da mesma forma que a luz do círio, na liturgia de Páscoa, acende muitas outras velas. A fé transmite-se por assim dizer sob a forma de contacto, de pessoa a pessoa, como uma chama se acende noutra chama. Os cristãos, na sua pobreza, lançam uma semente tão fecunda que se torna uma grande árvore, capaz de encher o mundo de frutos.

38. A transmissão da fé, que brilha para as pessoas de todos os lugares, passa também através do eixo do tempo, de geração em geração. Dado que a fé nasce de um encontro que acontece na história e ilumina o nosso caminho no tempo, a mesma deve ser transmitida ao longo dos séculos. É através de uma cadeia ininterrupta de testemunhos que nos chega o rosto de Jesus. Como é possível isto? Como se pode estar seguro de beber no « verdadeiro Jesus » através dos séculos? Se o homem fosse um indivíduo isolado, se quiséssemos partir apenas do « eu » individual, que pretende encontrar em si mesmo a firmeza do seu conhecimento, tal certeza seria impossível; não posso, por mim mesmo, ver aquilo que aconteceu numa época tão distante de mim. Mas, esta não é a única maneira de o homem conhecer; a pessoa vive sempre em relação: provém de outros, pertence a outros, a sua vida torna-se maior no encontro com os outros; o próprio conhecimento e consciência de nós mesmos são de tipo relacional e estão ligados a outros que nos precederam, a começar pelos nossos pais que nos deram a vida e o nome. A própria linguagem, as palavras com que interpretamos a nossa vida e a realidade inteira chegam-nos através dos outros, conservadas na memória viva de outros; o conhecimento de nós mesmos só é possível quando participamos duma memória mais ampla. O mesmo acontece com a fé, que leva à plenitude o modo humano de entender: o passado da fé, aquele acto de amor de Jesus que gerou no mundo uma vida nova, chega até nós na memória de outros, das testemunhas, guardado vivo naquele sujeito único de memória que é a Igreja; esta é uma Mãe que nos ensina a falar a linguagem da fé. São João insistiu sobre este aspecto no seu Evangelho, unindo conjuntamente fé e memória e associando as duas à acção do Espírito Santo que, como diz Jesus, « há-de recordar-vos tudo » (Jo 14, 26). O Amor, que é o Espírito e que habita na Igreja, mantém unidos entre si todos os tempos e faz-nos contemporâneos de Jesus, tornando-Se assim o guia do nosso caminho na fé.

39. É impossível crer sozinhos. A fé não é só uma opção individual que se realiza na interioridade do crente, não é uma relação isolada entre o « eu » do fiel e o « Tu » divino, entre o sujeito autónomo e Deus; mas, por sua natureza, abre-se ao « nós », verifica-se sempre dentro da comunhão da Igreja. Assim no-lo recorda a forma dialogada do Credo, que se usa na liturgia baptismal. O crer exprime-se como resposta a um convite, a uma palavra que não provém de mim, mas deve ser escutada; por isso, insere-se no interior de um diálogo, não pode ser uma mera confissão que nasce do indivíduo: só é possível responder « creio » em primeira pessoa, porque se pertence a uma comunhão grande, dizendo também « cremos ». Esta abertura ao « nós » eclesial realiza-se de acordo com a abertura própria do amor de Deus, que não é apenas relação entre o Pai e o Filho, entre « eu » e « tu », mas, no Espírito, é também um « nós », uma comunhão de pessoas. Por isso mesmo, quem crê nunca está sozinho; e, pela mesma razão, a fé tende a difundir-se, a convidar outros para a sua alegria. Quem recebe a fé, descobre que os espaços do próprio « eu » se alargam, gerando-se nele novas relações que enriquecem a vida. Assim o exprimiu vigorosamente Tertuliano ao dizer do catecúmeno que, tendo sido recebido numa nova família « depois do banho do novo nascimento », é acolhido na casa da Mãe para erguer as mãos e rezar, juntamente com os irmãos, o Pai Nosso.[34]

Os sacramentos e a transmissão da fé

40. Como sucede em cada família, a Igreja transmite aos seus filhos o conteúdo da sua memória. Como se deve fazer esta transmissão de modo que nada se perca, mas antes que tudo se aprofunde cada vez mais na herança da fé? É através da Tradição Apostólica, conservada na Igreja com a assistência do Espírito Santo, que temos contacto vivo com a memória fundadora. E aquilo que foi transmitido pelos Apóstolos, como afirma o Concílio Ecuménico Vaticano II, « abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita ».[35]

De facto, a fé tem necessidade de um âmbito onde se possa testemunhar e comunicar, e que o mesmo seja adequado e proporcionado ao que se comunica. Para transmitir um conteúdo meramente doutrinal, uma ideia, talvez bastasse um livro ou a repetição de uma mensagem oral; mas aquilo que se comunica na Igreja, o que se transmite na sua Tradição viva é a luz nova que nasce do encontro com o Deus vivo, uma luz que toca a pessoa no seu íntimo, no coração, envolvendo a sua mente, vontade e afectividade, abrindo-a a relações vivas na comunhão com Deus e com os outros. Para se transmitir tal plenitude, existe um meio especial que põe em jogo a pessoa inteira: corpo e espírito, interioridade e relações. Este meio são os sacramentos celebrados na liturgia da Igreja: neles, comunica-se uma memória encarnada, ligada aos lugares e épocas da vida, associada com todos os sentidos; neles, a pessoa é envolvida, como membro de um sujeito vivo, num tecido de relações comunitárias. Por isso, se é verdade que os sacramentos são os sacramentos da fé,[36] há que afirmar também que a fé tem uma estrutura sacramental; o despertar da fé passa pelo despertar de um novo sentido sacramental na vida do homem e na existência cristã, mostrando como o visível e o material se abrem para o mistério do eterno.

41. A transmissão da fé verifica-se, em primeiro lugar, através do Baptismo. Poderia parecer que este sacramento fosse apenas um modo para simbolizar a confissão de fé, um acto pedagógico para quem precise de imagens e gestos, e do qual seria possível fundamentalmente prescindir. Mas não é assim, como no-lo recorda uma palavra de São Paulo: « Pelo Baptismo fomos sepultados com Cristo na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova » (Rm 6, 4); nele, tornamo-nos nova criatura e filhos adoptivos de Deus. E mais adiante o Apóstolo diz que o cristão foi confiado a uma « forma de ensino » (typos didachés), a que obedece de coração (cf. Rm 6, 17): no Baptismo, o homem recebe também uma doutrina que deve professar e uma forma concreta de vida que requer o envolvimento de toda a sua pessoa, encaminhando-a para o bem; é transferido para um novo âmbito, confiado a um novo ambiente, a uma nova maneira comum de agir, na Igreja. Deste modo, o Baptismo recorda-nos que a fé não é obra do indivíduo isolado, não é um acto que o homem possa realizar contando apenas com as próprias forças, mas tem de ser recebida, entrando na comunhão eclesial que transmite o dom de Deus: ninguém se baptiza a si mesmo, tal como ninguém vem sozinho à existência. Fomos baptizados.

42. Quais são os elementos baptismais que nos introduzem nesta nova « forma de ensino »? Sobre o catecúmeno é invocado, em primeiro lugar, o nome da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. E deste modo se oferece, logo desde o princípio, uma síntese do caminho da fé: o Deus que chamou Abraão e quis chamar-Se seu Deus, o Deus que revelou o seu nome a Moisés, o Deus que, ao entregar-nos o seu Filho, nos revelou plenamente o mistério do seu Nome, dá à pessoa baptizada uma nova identidade filial. Desta forma, se evidencia o sentido da imersão na água que se realiza no Baptismo: a água é, simultaneamente, símbolo de morte, que nos convida a passar pela conversão do « eu » tendo em vista a sua abertura a um « Eu » maior, e símbolo de vida, do ventre onde renascemos para seguir Cristo na sua nova existência. Deste modo, através da imersão na água, o Baptismo fala-nos da estrutura encarnada da fé. A acção de Cristo toca-nos na nossa realidade pessoal, transformando-nos radicalmente, tornando-nos filhos adoptivos de Deus, participantes da natureza divina; e assim modifica todas as nossas relações, a nossa situação concreta na terra e no universo, abrindo-as à própria vida de comunhão d’Ele. Este dinamismo de transformação próprio do Baptismo ajuda-nos a perceber a importância do catecumenato, que hoje — mesmo em sociedades de antigas raízes cristãs, onde um número crescente de adultos se aproxima do sacramento baptismal — se reveste de singular relevância para a nova evangelização. É o itinerário de preparação para o Baptismo, para a transformação da vida inteira em Cristo.

Para compreender a ligação entre o Baptismo e a fé, pode ajudar-nos a recordação de um texto do profeta Isaías, que já aparece associado com o Baptismo na literatura cristã antiga: « Terá o seu refúgio em rochas elevadas, terá (…) água em abundância » (Is 33, 16).[37] Resgatado da morte pela água, o baptizado pode manter-se de pé sobre « rochas elevadas », porque encontrou a solidez à qual confiar-se; e, assim, a água de morte transformou-se em água de vida. O texto grego descrevia-a como água pistòs, água « fiel »: a água do Baptismo é fiel, podendo confiar-nos a ela porque a sua corrente entra na dinâmica de amor de Jesus, fonte de segurança para o nosso caminho na vida.

43. A estrutura do Baptismo, a sua configuração como renascimento no qual recebemos um nome novo e uma vida nova, ajuda-nos a compreender o sentido e a importância do Baptismo das crianças. Uma criança não é capaz de um acto livre que acolha a fé: ainda não a pode confessar sozinha e, por isso mesmo, é confessada pelos seus pais e pelos padrinhos em nome dela. A fé é vivida no âmbito da comunidade da Igreja, insere-se num « nós » comum. Assim, a criança pode ser sustentada por outros, pelos seus pais e padrinhos, e pode ser acolhida na fé deles que é a fé da Igreja, simbolizada pela luz que o pai toma do círio na liturgia baptismal. Esta estrutura do Baptismo põe em evidência a importância da sinergia entre a Igreja e a família na transmissão da fé. Os pais são chamados — como diz Santo Agostinho — não só a gerar os filhos para a vida, mas a levá-los a Deus, para que sejam, através do Baptismo, regenerados como filhos de Deus, recebam o dom da fé.[38] Assim, juntamente com a vida, é-lhes dada a orientação fundamental da existência e a segurança de um bom futuro; orientação esta, que será ulteriormente corroborada no sacramento da Confirmação com o selo indelével do Espírito Santo.

44. A natureza sacramental da fé encontra a sua máxima expressão na Eucaristia. Esta é alimento precioso da fé, encontro com Cristo presente de maneira real no seu acto supremo de amor: o dom de Si mesmo que gera vida. Na Eucaristia, temos o cruzamento dos dois eixos sobre os quais a fé percorre o seu caminho. Por um lado, o eixo da história: a Eucaristia é acto de memória, actualização do mistério, em que o passado, como um evento de morte e ressurreição, mostra a sua capacidade de se abrir ao futuro, de antecipar a plenitude final; no-lo recorda a liturgia com o seu hodie, o « hoje » dos mistérios da salvação. Por outro lado, encontra-se aqui também o eixo que conduz do mundo visível ao invisível: na Eucaristia, aprendemos a ver a profundidade do real. O pão e o vinho transformam-se no Corpo e Sangue de Cristo, que Se faz presente no seu caminho pascal para o Pai: este movimento introduz-nos, corpo e alma, no movimento de toda a criação para a sua plenitude em Deus.

45. Na celebração dos sacramentos, a Igreja transmite a sua memória, particularmente com a profissão de fé. Nesta, não se trata tanto de prestar assentimento a um conjunto de verdades abstractas, como sobretudo fazer a vida toda entrar na comunhão plena com o Deus Vivo. Podemos dizer que, no Credo, o fiel é convidado a entrar no mistério que professa e a deixar-se transformar por aquilo que confessa. Para compreender o sentido desta afirmação, pensemos em primeiro lugar no conteúdo do Credo. Este tem uma estrutura trinitária: o Pai e o Filho unem-Se no Espírito de amor. Deste modo o crente afirma que o centro do ser, o segredo mais profundo de todas as coisas é a comunhão divina. Além disso, o Credo contém uma confissão cristológica: repassam-se os mistérios da vida de Jesus até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Céu, na esperança da sua vinda final na glória. E, consequentemente, afirma-se que este Deus-comunhão, permuta de amor entre o Pai e o Filho no Espírito, é capaz de abraçar a história do homem, de introduzi-lo no seu dinamismo de comunhão, que tem, no Pai, a sua origem e meta final. Aquele que confessa a fé sente-se implicado na verdade que confessa; não pode pronunciar, com verdade, as palavras do Credo, sem ser por isso mesmo transformado, sem mergulhar na história de amor que o abraça, que dilata o seu ser tornando-o parte de uma grande comunhão, do sujeito último que pronuncia o Credo: a Igreja. Todas as verdades, em que cremos, afirmam o mistério da vida nova da fé como caminho de comunhão com o Deus Vivo.

Fé, oração e Decálogo

46. Há mais dois elementos que são essenciais na transmissão fiel da memória da Igreja. O primeiro é a Oração do Senhor, o Pai Nosso; nela, o cristão aprende a partilhar a própria experiência espiritual de Cristo e começa a ver com os olhos d’Ele. A partir d’Aquele que é Luz da Luz, do Filho Unigénito do Pai, também nós conhecemos a Deus e podemos inflamar outros no desejo de se aproximarem d’Ele.

Igualmente importante é ainda a ligação entre a fé e o Decálogo. Dissemos já que a fé se apresenta como um caminho, uma estrada a percorrer, aberta pelo encontro com o Deus vivo; por isso, à luz da fé, da entrega total ao Deus que salva, o Decálogo adquire a sua verdade mais profunda, contida nas palavras que introduzem os Dez Mandamentos: « Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto » (Ex 20, 2). O Decálogo não é um conjunto de preceitos negativos, mas de indicações concretas para sair do deserto do « eu » auto-referencial, fechado em si mesmo, e entrar em diálogo com Deus, deixando-se abraçar pela sua misericórdia a fim de a irradiar. Deste modo, a fé confessa o amor de Deus, origem e sustentáculo de tudo, deixa-se mover por este amor para caminhar rumo à plenitude da comunhão com Deus. O Decálogo aparece como o caminho da gratidão, da resposta de amor, que é possível porque, na fé, nos abrimos à experiência do amor de Deus que nos transforma. E este caminho recebe uma luz nova de tudo aquilo que Jesus ensina no Sermão da Montanha (cf. Mt 5 - 7).

Toquei assim os quatro elementos que resumem o tesouro de memória que a Igreja transmite: a confissão de fé, a celebração dos sacramentos, o caminho do Decálogo, a oração. À volta deles se estruturou tradicionalmente a catequese da Igreja, como se pode ver no Catecismo da Igreja Católica, instrumento fundamental para aquele acto com que a Igreja comunica o conteúdo inteiro da fé, « tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita ».[39]

A unidade e a integridade da fé

47. A unidade da Igreja, no tempo e no espaço, está ligada com a unidade da fé: « Há um só Corpo e um só Espírito, (...) uma só fé » (Ef 4, 4-5). Hoje poderá parecer realizável a união dos homens com base num compromisso comum, na amizade, na partilha da mesma sorte com uma meta comum; mas sentimos muita dificuldade em conceber uma unidade na mesma verdade; parece-nos que uma união do género se oporia à liberdade do pensamento e à autonomia do sujeito. Pelo contrário, a experiência do amor diz-nos que é possível termos uma visão comum precisamente no amor: neste, aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro e isto, longe de nos empobrecer, enriquece o nosso olhar. O amor verdadeiro, à medida do amor divino, exige a verdade e, no olhar comum da verdade que é Jesus Cristo, torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria da fé: a unidade de visão num só corpo e num só espírito. Neste sentido, São Leão Magno podia afirmar: « Se a fé não é una, não é fé ».[40]

Qual é o segredo desta unidade? A fé é una, em primeiro lugar, pela unidade de Deus conhecido e confessado. Todos os artigos de fé se referem a Ele, são caminhos para conhecer o seu ser e o seu agir; por isso, possuem uma unidade superior a tudo quanto possamos construir com o nosso pensamento, possuem a unidade que nos enriquece, porque se comunica a nós e nos torna um.

Depois, a fé é una, porque se dirige ao único Senhor, à vida de Jesus, à história concreta que Ele partilha connosco. Santo Ireneu de Lião deixou isto claro, contrapondo-o aos hereges gnósticos. Estes sustentavam a existência de dois tipos de fé: uma fé rude, a fé dos simples, imperfeita, que se mantinha ao nível da carne de Cristo e da contemplação dos seus mistérios; e outro tipo de fé mais profunda e perfeita, a fé verdadeira reservada para um círculo restrito de iniciados, que se elevava com o intelecto para além da carne de Jesus rumo aos mistérios da divindade desconhecida. Contra esta pretensão, que ainda em nossos dias continua a ter o seu encanto e os seus seguidores, Santo Ireneu reafirma que a fé é uma só, porque passa sempre pelo ponto concreto da encarnação, sem nunca superar a carne e a história de Cristo, dado que Deus Se quis revelar plenamente nela. É por isso que não há diferença, na fé, entre « aquele que é capaz de falar dela mais tempo » e « aquele que fala pouco », entre aquele que é mais dotado e quem se mostra menos capaz: nem o primeiro pode ampliar a fé, nem o segundo diminuí-la.[41]

Por último, a fé é una, porque é partilhada por toda a Igreja, que é um só corpo e um só Espírito: na comunhão do único sujeito que é a Igreja, recebemos um olhar comum. Confessando a mesma fé, apoiamo-nos sobre a mesma rocha, somos transformados pelo mesmo Espírito de amor, irradiamos uma única luz e temos um único olhar para penetrar na realidade.

48. Dado que a fé é uma só, deve-se confessar em toda a sua pureza e integridade. Precisamente porque todos os artigos da fé estão unitariamente ligados, negar um deles — mesmo dos que possam parecer menos importantes — equivale a danificar o todo. Cada época pode encontrar pontos da fé mais fáceis ou mais difíceis de aceitar; por isso, é importante vigiar para que se transmita todo o depósito da fé (cf. 1 Tm 6, 20) e para que se insista oportunamente sobre todos os aspectos da confissão de fé. De facto, visto que a unidade da fé é a unidade da Igreja, tirar algo à fé é fazê-lo à verdade da comunhão. Os Padres descreveram a fé como um corpo, o corpo da verdade, com diversos membros, analogamente ao que se passa no corpo de Cristo com o seu prolongamento na Igreja.[42] A integridade da fé foi associada também com a imagem da Igreja virgem, com o seu amor esponsal fiel a Cristo: danificar a fé significa danificar a comunhão com o Senhor.[43] A unidade da fé é, por conseguinte, a de um organismo vivo, como bem evidenciou o Beato John Henry Newman, quando enumera, entre as notas características para distinguir a continuidade da doutrina no tempo, o seu poder de assimilar em si tudo o que encontra, nos diversos âmbitos em que se torna presente, nas diversas culturas que encontra,[44] tudo purificando e levando à sua melhor expressão. É assim que a fé se mostra universal, católica, porque a sua luz cresce para iluminar todo o universo, toda a história.

49. Como serviço à unidade da fé e à sua transmissão íntegra, o Senhor deu à Igreja o dom da sucessão apostólica. Por seu intermédio, fica garantida a continuidade da memória da Igreja, e é possível beber, com certeza, na fonte pura donde surge a fé; assim a garantia da ligação com a origem é-nos dada por pessoas vivas, o que equivale à fé viva que a Igreja transmite. Esta fé viva assenta sobre a fidelidade das testemunhas que foram escolhidas pelo Senhor para tal tarefa; por isso, o magistério fala sempre em obediência à Palavra originária, sobre a qual se baseia a fé, e é fiável porque se entrega à Palavra que escuta, guarda e expõe.[45] No discurso de despedida aos anciãos de Éfeso, em Mileto, referido por São Lucas nos Actos dos Apóstolos, São Paulo atesta que cumpriu o encargo, que lhe foi confiado pelo Senhor, de lhes anunciar toda a vontade de Deus (cf. Act 20, 27); é graças ao magistério da Igreja que nos pode chegar, íntegra, esta vontade e, com ela, a alegria de a podermos cumprir plenamente.

CAPÍTULO IV

DEUS PREPARA
PARA ELES UMA CIDADE
(cf. Heb 11, 16)

A fé e o bem comum

50. Ao apresentar a história dos patriarcas e dos justos do Antigo Testamento, a Carta aos Hebreus põe em relevo um aspecto essencial da sua fé; esta não se apresenta apenas como um caminho, mas também como edificação, preparação de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros. O primeiro construtor é Noé, que, na arca, consegue salvar a sua família (cf. Heb 11, 7). Depois aparece Abraão, de quem se diz que, pela fé, habitara em tendas, esperando a cidade de alicerces firmes (cf. Heb 11, 9-10). Vemos assim surgir, relacionada com a fé, uma nova fiabilidade, uma nova solidez, que só Deus pode dar. Se o homem de fé assenta sobre o Deus-Amen, o Deus fiel (cf. Is 65, 16), tornando-se assim firme ele mesmo, podemos acrescentar que a firmeza da fé se refere também à cidade que Deus está a preparar para o homem. A fé revela quão firmes podem ser os vínculos entre os homens, quando Deus Se torna presente no meio deles. Não evoca apenas uma solidez interior, uma convicção firme do crente; a fé ilumina também as relações entre os homens, porque nasce do amor e segue a dinâmica do amor de Deus. O Deus fiável dá aos homens uma cidade fiável.

51. Devido precisamente à sua ligação com o amor (cf. Gl 5, 6), a luz da fé coloca-se ao serviço concreto da justiça, do direito e da paz. A fé nasce do encontro com o amor gerador de Deus que mostra o sentido e a bondade da nossa vida; esta é iluminada na medida em que entra no dinamismo aberto por este amor, isto é, enquanto se torna caminho e exercício para a plenitude do amor. A luz da fé é capaz de valorizar a riqueza das relações humanas, a sua capacidade de perdurarem, serem fiáveis, enriquecerem a vida comum. A fé não afasta do mundo, nem é alheia ao esforço concreto dos nossos contemporâneos. Sem um amor fiável, nada poderia manter verdadeiramente unidos os homens: a unidade entre eles seria concebível apenas enquanto fundada sobre a utilidade, a conjugação dos interesses, o medo, mas não sobre a beleza de viverem juntos, nem sobre a alegria que a simples presença do outro pode gerar. A fé faz compreender a arquitectura das relações humanas, porque identifica o seu fundamento último e destino definitivo em Deus, no seu amor, e assim ilumina a arte da sua construção, tornando-se um serviço ao bem comum. Por isso, a fé é um bem para todos, um bem comum: a sua luz não ilumina apenas o âmbito da Igreja nem serve somente para construir uma cidade eterna no além, mas ajuda também a construir as nossas sociedades de modo que caminhem para um futuro de esperança. A Carta aos Hebreus oferece um exemplo disto mesmo, ao nomear entre os homens de fé Samuel e David, a quem a fé permitiu « exercerem a justiça » (11, 33). A expressão refere-se aqui à sua justiça no governar, àquela sabedoria que traz a paz ao povo (cf. 1 Sm 12, 3-5; 2 Sm 8, 15). As mãos da fé levantam-se para o céu, mas fazem-no ao mesmo tempo que edificam, na caridade, uma cidade construída sobre relações que têm como alicerce o amor de Deus.

A fé e a família

52. No caminho de Abraão para a cidade futura, a Carta aos Hebreus alude à bênção que se transmite dos pais aos filhos (cf. 11, 20-21). O primeiro âmbito da cidade dos homens iluminado pela fé é a família; penso, antes de mais nada, na união estável do homem e da mulher no matrimónio. Tal união nasce do seu amor, sinal e presença do amor de Deus, nasce do reconhecimento e aceitação do bem que é a diferença sexual, em virtude da qual os cônjuges se podem unir numa só carne (cf. Gn 2, 24) e são capazes de gerar uma nova vida, manifestação da bondade do Criador, da sua sabedoria e do seu desígnio de amor. Fundados sobre este amor, homem e mulher podem prometer-se amor mútuo com um gesto que compromete a vida inteira e que lembra muitos traços da fé: prometer um amor que dure para sempre é possível quando se descobre um desígnio maior que os próprios projectos, que nos sustenta e permite doar o futuro inteiro à pessoa amada. Depois, a fé pode ajudar a individuar em toda a sua profundidade e riqueza a geração dos filhos, porque faz reconhecer nela o amor criador que nos dá e nos entrega o mistério de uma nova pessoa; foi assim que Sara, pela sua fé, se tornou mãe, apoiando-se na fidelidade de Deus à sua promessa (cf. Heb 11, 11).

53. Em família, a fé acompanha todas as idades da vida, a começar pela infância: as crianças aprendem a confiar no amor de seus pais. Por isso, é importante que os pais cultivem práticas de fé comuns na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos. Sobretudo os jovens, que atravessam uma idade da vida tão complexa, rica e importante para a fé, devem sentir a proximidade e a atenção da família e da comunidade eclesial no seu caminho de crescimento da fé. Todos vimos como, nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens mostram a alegria da fé, o compromisso de viver uma fé cada vez mais sólida e generosa. Os jovens têm o desejo de uma vida grande; o encontro com Cristo, o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude. A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade.

 

Renúncia do Papa na imprensa

Organismos, instituições e autoridades civis, militares e eclesiásticas de todas as partes do mundo se manifestaram, após o comunicado do Papa.  

Logo depois do anúncio da saída de Bento XVI, o governo da Alemanha divulgou nota dizendo que lamenta a decisão de Ratzinger e se sente “tocado” pelo fato. O teólogo Leonardo Boff considerou um ato digno a saída do Papa.  

O afastamento do Papa foi qualificado de um ato espiritualmente exemplar pelo jornal do Vaticano, o Observatório Romano. Segundo o jornal, a decisão foi tomada há um ano, durante uma viagem de Bento XVI aoMéxico e a Cuba. Foi a primeira vez que o Papa apareceu apoiado numa bengala, demonstrando fragilidade.

A rede americana de televisão “CNN” levanta a discussão para uma possível mudança na Igreja Católica com a sucessão do Papa. O jornal “The Washington Post” também fala do futuro do catolicismo e o que a Igreja pode esperar do Papa no século XXI. O também americano “The Wall Street Journal” destaca o que chamou de “ato histórico”.

Na Europa, o francês Le Monde lembra os quase oito anos do pontificado de Bento 16 como um período polêmico devido às denúncias e investigações. O também francês “Le Figaro” fala dos próximos passos da Igreja até o dia 28, data marcada para o afastamento do Papa.

O espanhol “El País” traz na primeira página uma foto curiosa: o momento em que um raio atinge a Basílica de São Pedro na tempestade que começou logo depois do comunicado da renúncia. Já o italiano “Corriere Della Sera” analisa a atitude do Papa como um gesto humilde, mas levanta três perguntas: por que o anúncio foi feito ontem? Por que em uma reunião de rotina? E por que o Papa quer se aposentar?

Na Alemanha, país natal de Bento XVI, a revista “Spiegel” destaca a situação inédita de um ex-Papa e chama a renúncia de crise na Igreja.

Depoimentos de líderes e instituições religiosas

                A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota na tarde da segunda-feira, 11 de fevereiro, sobre o anúncio da renúncia do Papa Bento 16. Em nota, a CNBB disse receber com surpresa o anúncio feito pelo Papa, mas acolhe com amor filial as razões apresentadas por ele, como sinal de sua humildade e grandeza, que caracterizam os oito anos de seu pontificado.

                “Teólogo brilhante, Bento XVI entrará para a história como o ‘Papa do amor’ e o ‘Papa do Deus Pequeno’, que fez do Reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e de seu ministério. O curto período de seu pontificado foi suficiente para ajudar a Igreja a intensificar a busca da unidade dos cristãos e das religiões através de um eficaz diálogo ecumênico e inter-religioso, bem como para chamar a atenção do mundo para a necessidade de voltar-se ao Deus criador e Senhor da vida” (trecho da nota da CNBB).

                No final da carta, os Bispos do Brasil agradeceram ao Papa pelo carinho e apreço que sempre manifestou para com a Igreja no Brasil, desde a visita ao País para abrir a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe e da escolha do Rio de Janeiro para sediar a Jornada Mundial da Juventude em julho desse ano. “Conclamamos a Igreja no Brasil a acompanhar com oração e serenidade o legítimo processo de eleição do sucessor de Bento 16. Confiamos na assistência do Espírito Santo e na proteção de Nossa Senhora Aparecida, neste momento singular da vida da Igreja de Cristo”, concluiu a carta assinada pelo Presidente da CNBB, Cardeal Raymundo Damasceno Assis.

                O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, scj, afirmou que recebeu com fé a notícia sobre a renúncia do Papa Bento 16. Para o Arcebispo, esse foi um ato de lealdade à Igreja. “Esse foi um gesto de amor. Quando ele aceitou ser Papa, foi com a missão de servir à Igreja. Agora, viu que lhe faltam forças e não tem condições de continuar exercendo o ministério. Ele demonstra confiar em Jesus Cristo, que vai nos dar um novo pastor para conduzir Seu rebanho”, declarou.

                Também o episcopado em toda a América se pronunciou. A Conferência Episcopal dos Estados Unidos considerou a decisão do Papa como uma `nova prova de sua grande entrega à Igreja`.

                O Cardeal cubano Jaime Ortega y Alamino também classificou de `inestimável lição de humildade` e de `coragem` a decisão do Papa.

                A renúncia `nos fortalece na fé`, disse o Secretário-Geral da Conferência Episcopal Mexicana, Eugenio Lira.

                `É um momento de consternação e de grande tristeza`, declarou o bispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, enquanto a Conferência Episcopal Equatoriana manifestou seu `respeito e veneração` ao Papa.

                O Presidente da Conferência Episcopal do Chile, Dom Ricardo Ezzati, disse que o pontificado de Bento 16 foi `uma bênção para a Igreja Católica`.

                Para o Cardeal nicaraguense Miguel Obano y Bravo, Bento XVI deixa `uma estrela luminosa no caminho`.

                O Cardeal hondurenho Oscar Andrés Rodríguez vê a renúncia papal como `uma decisão de fé`, enquanto o arcebispo metropolitano da Guatemala, Dom Oscar Julio Vián, lamentou que um `grande Papa sai de cena`.

                O presidente da Conferência Episcopal da Bolívia (CEB), Dom Oscar Aparicio, é um ato a ser valorizado.

                Segundo o cardeal colombiano Rubén Salazar Gomez, `a herança que Bento XVI deixa é imensa sobretudo no campo da doutrina`.

                Bento XVI sofreu `golpes muito fortes` e os assumiu `com enorme fortaleza`, afirmou o Arcebispo de Lima, Card. Juan Luis Cipriani.

                O Presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), Arcebispo Diego Padrón, considerou a atitude do Papa como “um bom exemplo”.

                O Arcebispo metropolitano de Cidade do Panamá, Dom José Domingo Ulloa, disse que o Pontífice demonstrou sua `grandeza e humildade`.

                Por fim, o Arcebispo de San Salvador, Dom José Luis Escobar, é necessário que todos peçamos para que o Senhor proveja a sua Igreja de um papa santo e sábio como Bento 16.

                O Congresso Judaico Mundial e o Congresso Judaico Latino-americano, na pessoa de seus presidentes, Ronald Lauder e Jack Terpins, respectivamente, também emitiram um comunicado sobre o anúncio da renúncia do papa Bento XVI. A nota destaca que o Pontificado deBento XVI “elevou as relações católico-judaicas a um nível sem precedentes”. “Não só ele manteve as conquistas de seu predecessor, o papa João Paulo II, mas também sustentou uma sólida relação teológica e, o mais importante, a preencheu com sentido e com a vida”.

                O comunicado também ressalta que “nenhum Papa antes dele visitou tantas sinagogas” e reuniu-se tão seguidamente com “representantes de várias comunidades judaicas nos locais em que visitou ao redor do mundo”. E acrescenta que foi o Papa que mais avançou “no aprimoramento das relações com os judeus, e isto em vários níveis”.

                A renúncia de Bento 16 foi acolhida com respeito e apreço pelo Secretário-Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Rev. Olav Fykse Tveit. `Respeitamos totalmente a decisão de Sua Santidade Bento XVI de renunciar`, disse o pastor na sede do CMI, em Nova York, onde se encontra em visita.

                `Com profundo respeito, vimos como ele assumiu a responsabilidade e o peso de seu ministério em idade avançada, num momento difícil para a Igreja. Manifesto meu apreço pelo seu amor e compromisso com a Igreja e com o movimento ecumênico. Pedimos a Deus que o abençoe neste momento e nesta fase de sua vida e que guie a Igreja Católica neste período importante de transição`, sublinhou Tveit.

O novo arcebispo de Cantuária, Dr. Justin Welby, primaz da Igreja Anglicana, após a notícia da renúncia deBento XVI ao pontificado, disse que `o Papa Bento 16 nos mostrou o que pode ser concretamente a vocação à Sé de Pedro, um testemunho universal do Evangelho e um mensageiro da esperança”. E completou: `Nós, que pertencemos à família cristã estamos cientes da importância deste testemunho e nos unimos aos nossos irmãos católicos no agradecimento a Deus pela inspiração e o desafio do ministério do Papa Bento XVI”.

Dom Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém, com os bispos auxiliares, sacerdotes e fiéis da Terra Santa saúdam com gratidão a coragem, sabedoria moral e humildade de Bento XVI que serviu com dedicação à Igreja por quase 8 anos. Por meio de nota, afirmam que foi com grande alegria e esperança que “receberam a Exortação Apostólica Ecclesia in Medio. Através dela os cristãos do Oriente Médio apreciaram os conselhos e instruções a fim de serem nesta região e no mundo comunhão e testemunho”. O texto termina dizendo que `com emoção, oração e recolhimento agradece de coração a Bento XVIpelo afeto paterno e compromisso pela paz na Terra Santa e deseja ao Santo Padre que a Virgem Maria o acompanhe nessa decisão e no tempo de descanso que o espera`.

O presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Renzo Gattegna, declarou que os “judeus italianos manifestaram proximidade e respeito ao Papa Bento 16 pela decisão dolorosa e corajosa tomada neste momento`. Ele recordou foi extremamente significativo, ao longo do magistério do papa, “os passos dados em favor da aproximação entre judeus e cristãos, na esteira de valores comuns`.

 

NOTA SOBRE A RENÚNICA DO PAPA BENTO 16 DO BISPO DIOCESANO DE LIMEIRA, DOM VILSON DIAS DE OLIVEIRA, DC

 

Limeira, 10 de fevereiro de 2013.

 

Estou repassando a todos vocês o comunicado da Rádio Vaticano acerca da renúncia do Papa Bento XVI que deverá ocorrer no dia 28 de fevereiro de 2013. Eis o texto integral do anúncio abaixo recordando com suas palavras que: “a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino...a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20h00, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice”. O Colégio dos Cardeais, portanto, deverá ser convocado, para que escolha seu novo sucessor. É uma decisão inédita e corajosa, e acima de tudo cheia de humanidade. Rezemos, portanto, para que ele possa encerrar seu ministério petrino com dedicação e amor cada vez maiores. Rezemos para que o processo sucessório do futuro papa seja sereno e traga novas luzes e esperanças para a Igreja e para o mundo. Continuemos rezando pelo nosso querido Papa Bento XVI e pela sua saúde. Deus abençoe e guarde a todos em seu amor.

 

Dom Vilson Dias de Oliveira, DC

Bispo Diocesano de Limeira, SP.

 

CARTA DE RENÚNCIA DO PAPA BENTO 16

 

Caríssimos Irmãos, convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice. Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.

 

Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.

 

BENEDICTUS PP XVI

 

Biografia

A liderança de Bento 16 começou no dia 19 de abril de 2005. Ele permaneceu sete anos e dez meses no posto.Ratzinger, de 85 anos, nasceu em Marktl am Inn, na Alemanha, no dia 16 de Abril de 1927, e foi batizado no mesmo dia. O pai, comissário da polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições econômicas. A mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.

Ratzinger passou a infância e a adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a 30 quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.

 

 

 

 

 

bottom of page